terça-feira, 6 de março de 2012

Estreia "Salmo 91", espetáculo dirigido pelo professor Djalma Thürler

Espetáculo "Salmo 91" relembra episódio do massacre do Carandiru

Eduarda Uzêda



Uma  briga de presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, no complexo do Carandiru, zona norte de São Paulo, após intervenção policial, resultou na morte de 111 presos. A chacina, que teve repercussão internacional, ganha, pela primeira vez, análise no teatro baiano, no ano do seu vigésimo aniversário.
Trata-se do espetáculo Salmo 91, que estreia no próximo dia 8, às 20 horas, no  Teatro Molière. Durante um ensaio, ocorrido esta semana, pôde-se notar que o foco é mesmo na interpretação do ator.
O diretor carioca Djalma Thürler, que afinava algumas cenas, afirmou que a peça faz parte da trilogia sobre o cárcere, inaugurada com O Melhor do Homem, em 2010.  “Será a segunda montagem brasileira do texto, que venceu o Prêmio Shell em 2008”, lembrou ele.
Segundo o encenador, a peça discute também questões, como castigo e prisão, controle carcerário, além da construção da masculinidade, tema a que vem se dedicando  em pesquisas acadêmicas – Djalma é pos-doutor e professor do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos - IHAC/Ufba.

Baseada no best-seller Estação Carandiru, de Dráuzio Varela,  Salmo 91,  texto de Dib Carneiro Neto, conta as histórias de dez presos do Pavilhão 9, onde ocorreu o massacre.

Prazer pelo crime - Mas que ninguém espere uma visão determinista. Os presos não são tratados como coitados. “Quero mostrar que estes presos têm, também,  prazer pelo crime. Queremos fazer do teatro uma arena poética e política dos valores normativos da sociedade” diz Thürler.

O diretor, que abre mão da espetacularidade dos elementos cênicos em prol do ator,   anuncia o próximo trabalho que fecha a trilogia do cárcere: a peça  Diário de Um Ladrão, do  escritor e dramaturgo francês Jean Genet.

Elenco experiente - No elenco predominam atores experientes: Lucio Tranchesi Rubio, Fábio Vidal, Duda Woyda e Rafael Medrado são já bem conhecidos do público em trabalhos premiados. Lucas Lacerda não tem a mesma trajetória, mas atuou  em peças de diretores consagrados, como   Meu Nome é Mentira (Luiz Marfuz) e  Pavio Curto (Fernanda  Júlia).

Ao entrar no teatro, o público vai se deparar  com gaiolas de pássaros, que sinalizam para o universo das celas. Gaiolas como metáfora de aprisionamento, de privação de liberdade. José Dias, cenógrafo que já recebeu prêmios como o Molière, o Shell e Mambembe, assina a  direção de arte, que contempla o cenário e o figurino. A iluminação é de  Pedro Dultra.

Cada ator vive dois personagens,  o que contabiliza dez relatos pessoais, que são costurados pelo personagem narrador Dadá, representado por Fábio Vidal. O intérprete também faz  Véio Valdo, mais velho.

Mosaico humano - Rafael Medrado, que  já fez personagens cômicos, representará Negro Preto, filho e neto de presidiários, e Zé da Casa Verde, que tem duas esposas. Já Lucas Lacerda aparece como  Edelson, homem que se faz passar por médico, e o travesti Zizi Marlene, constantemente humilhado.

Duda Woyda, que já fez um preso em O Melhor do Homem, volta a  fazer dois presidiários: Charuto, apaixonado por uma mulher que se mostrará infiel, e Valente, assassino convertido em evangélico. Por fim, Lucio Tranchesi Rubio vive o  manda-chuva Bolacha, que decide quem pode viver ou morrer, e o decadente travesti Veronique. A crise da masculinidade também será enfocada na montagem.

 Fonte: A Tarde

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